Kherollyn de Campos Souza passou por três hospitais e quatro cirurgias desde que nasceu. Ela foi diagnosticada com síndrome do intestino curto e agora receberá cuidados em casa.
Kherollyn de Campos Souza tem um ano e quatro meses e na última sexta-feira (24) foi para casa pela primeira vez na vida. A bebê foi diagnosticada com a síndrome do intestino curto e recebeu alta após ficar 489 dias internada.
Neste período, ela passou por quatro cirurgias e três hospitais. Agora, está em casa, em Ortigueira, nos Campos Gerais do Paraná, em "home care", ou seja, recebendo cuidados a domicílio.
De acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e da Associação Brasileira de Nutrologia, a síndrome do intestino curto provoca má-absorção intestinal e torna inevitável a dependência da terapia nutricional parenteral (TNP) - conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente.
A notícia do tratamento em casa foi motivo de comemoração para a família, que se viu dividida desde que Kherollyn nasceu.
Mesmo se alimentando normalmente agora, a expectativa é que futuramente o intestino dela possa crescer e absorver as calorias necessárias, sem necessidade do auxílio da nutrição intravenosa – o tempo irá responder ao que a equipe prevê.
Internações
Kherollyn nasceu em 31 de janeiro de 2023 em um hospital de Telêmaco Borba, cidade vizinha à Ortigueira, onde mora a família da bebê.
No dia seguinte, começou a ter vômitos e precisou começar a tomar antibióticos. Após exames detectarem alterações, foi transferida no dia 4 de fevereiro para o Humai-UEPG, de Ponta Grossa.
“Era um sábado, 1h15 da manhã, fizemos exames e vimos que o intestino estava retorcido. Daquele dia em diante, ela ficou na UTI até o dia 3 de maio do ano passado, quando fomos fazer reabilitação lá no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba”, recorda a mãe.
A mãe dela, Lúcia de Campos Oliveira, tem outras duas filhas, que ficaram com o pai em Ortigueira enquanto Lúcia acompanhava a bebê nos hospitais de Telêmaco Borba, Ponta Grossa e Curitiba.
“Eu ficava de 30 até 60 dias junto com ela, não ia pra casa. Ia apenas num fim de semana para ver minhas duas outras meninas mais velhas. [...] Mesmo me recuperando da cesárea, eu não saía de perto dela. Era difícil, ainda mais pra quem fica, mas a gente se adapta”, afirma Lúcia.
Na maior parte do tempo, Kherollyn ficou no Hospital Universitário Materno-Infantil da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Humai-UEPG).
Para que a mãe pudesse também ver as outras filhas, profissionais da equipe se voluntariaram para ir ao Hospital, fora do horário de trabalho, fazer o papel de acompanhante da pequena.
“Nós nunca tivemos um paciente internado por tanto tempo com a gente. [...] Cada um ajudava com o que podia, além das atividades inerentes à profissão. Muita gratidão, por termos conseguido encaminhá-la para alta com segurança, porém fica um vazio, com certeza iremos sentir muita falta delas”, afirma Ticiane Vilela, coordenadora das Clínicas Pediátricas do Humai.
Com o fim do tratamento na capital, mãe e filha voltaram para o Humai em 12 de setembro, na Clínica Cirúrgica, local em que aguardaram até a alta - que veio às vésperas da menina completar um ano e quatro meses de idade.
Moradora de hospitais
A bebê em fase de crescimento pleno precisou aprender a sentar, engatinhar, caminhar e comer em um quarto de clínica cirúrgica, em isolamento de contato.
Como o espaço era a sua casa, foi adaptado com brinquedos e toda a equipe precisou revisar protocolos, para proporcionar conforto à criança e sua mãe.
“Temos um carinho muito grande por eles. E na psicologia, nosso foco era a família. A Lúcia precisava estar aqui o tempo todo, foi poucas vezes para casa, então tivemos que desenvolver estratégias para atender o caso”, conta a psicóloga Karen Martins, do Humai.
No hospital, Kherollyn comemorou Dia das Crianças, Natal e até mesmo o aniversário de um ano, que contou com festa de aniversário organizada pela equipe do local.
A adaptação foi tanta, que a menina aprendeu os cuidados com higiene hospitalar. Basta chegar alguém com álcool 70% por perto, para ela pedir para passar na mão, ciente de que aquilo é bom para a saúde, conta a equipe hospitalar.
Conhecendo a própria casa
Eram 7 horas da manhã de sexta-feira (24) e todos já estavam em pé. Hora de ir para a outra casa, a definitiva, depois de quase um ano e quatro meses num hospital. Malas prontas, brinquedos guardados e bebê com laço no cabelo.
Foi difícil segurar a emoção em cada abraço apertado de despedida, conta a mãe da menina.
“O Humai foi um apoio muito, muito, muito importante, porque tudo o que eu precisei, sempre estenderam a mão. Aqui ela conseguiu se desenvolver, ter rotina… era uma casa, só que cheia de gente”, disse Lúcia.
Para que a ida para casa fosse bem-sucedida, o Humai trouxe a equipe de Ortigueira, que ficará responsável pelos cuidados em casa, para capacitação com enfermeiros, nutricionistas e médicos.
“A direção dos Hospitais Universitários acompanhou com alegria a alta da pequena Kherollyn, uma união de esforços assistenciais e administrativos para que ela tivesse o melhor atendimento possível”, ressalta a diretora geral, Fabiana Postiglione Mansani.
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