Tivi São Lourenço, 28 de outubro de 2024
Gerais

Cadeirante começa aula de coreografia e inspira em SC: 'Você se sente fora da cadeira'

Larissa Lopes participa há dois meses e diz que melhorou coordenação motora e é acolhida por colegas. 'Turma inteira abraçou essa causa', diz professora.

Por G1/SC

Atualizado em 18/10/2023 | 17:34:00

Em meio a muitas mulheres que participam de uma aula de dança em uma academia de Florianópolis, Larissa Kliemann Lopes, de 42 anos, balança o braço no ritmo da música. Perto do palco, ela se diverte com as colegas e copia as coreografias da professora Diórgia Bressan.

Em um ambiente acolhedor, o fato de Larissa estar em uma cadeira de rodas não é obstáculo algum para que ela acompanhe as aulas. Cadeirante desde pequena, ela frequenta a dança há dois meses e conta o quanto a atividade faz bem para ela, tanto na parte física quanto para a saúde mental.

"Acaba que você se sente fora da cadeira mesmo estando nela", resume Larissa.
Início
Larissa, que trabalha na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, começou a fazer academia em 2019. "Conheci a dança através de um evento que teve na academia. Eu não dançava, eu era travada", relata.

A professora conta que o evento na academia teve todas as modalidades e Larissa participou da aula de ritmos. "Eu sempre tenho o hábito de abrir uma grande roda e fazer com que todos os alunos dancem junto comigo. Quando eu abri essa roda, eu percebi que os olhos dela ficaram brilhantes e mais vivos do que já estavam e ela abriu um sorriso para mim querendo dizer ‘nossa, que bom, a professora chegou mais perto de mim, trouxe a dança mais ao meu alcance’", relata Diórgia.

Depois, elas passaram a se falar pelas redes sociais. Foi onde Larissa demonstrou o interesse pela aula de dança. No início, foi preciso estreitar a relação e comunicação entre professora e aluna.

A relação entre o instrutor e o participante é fundamental, na avaliação de Larissa. "Não só a academia tem que ter a condição de receber um cadeirante como também o profissional tem que permitir ser desafiado a conhecer o que não é comum para ele".

"Eu a Diórgia temos isso. Ela me olha e eu já sei o movimento que eu tenho que fazer. Isso é muito importante também, é muito libertador, te dá confiança. A pessoa está ali e sabe que tu podes fazer", resume a aluna.

"Eu entrei na dança faz dois meses, mas já me mudou enquanto pessoa, já me deu uma desenvoltura maior. Tirou aquela vergonha, os medos que a gente tem de julgamento. Você encara e você dança do jeito que você pode, ou vai ficar sempre naquela encolhida, e dizendo para si mesma ‘eu não posso’, quando você pode, tudo o que você quer".

Diórgia conta que conversou bastante com Larissa para ver até onde ela se sentia confortável nas aulas. "Perguntei ‘Eu posso mexer na tua cadeira, eu posso me aproximar de ti e dançar contigo? Tu preferes ficar mais quietinha no teu canto?'".

Primeiramente, Larissa ficava realmente mais em um canto da sala, segundo Diórgia, mas isso mudou.

“Ela chega, ela vai para frente e ela dança. Dança, e dança muito, e canta. Eu tento adaptar e fazer a minha aula da melhor maneira possível para que ela se sinta feliz, para que ela se sinta à vontade dentro das possibilidades dela, e a turma inteira abraçou essa causa, a turma inteira a acolhe com todo o carinho”, conta.

Liberdade e acolhimento
Larissa diz que a aula traz muitos benefícios para ela, além do exercício físico, e recomenda a atividade a outros cadeirantes.

"Que a pessoa se permita fazer isso. Eu era muito envergonhada. Através dela, desse incentivo que a Diórgia me deu, essa oportunidade de fazer parte da dança. A pessoa querer fazer e botar na cabeça que ela também pode fazer, independente do que seja. Que ela se permita fazer algo que não é comum para ela", declara.

Ela pretende seguir com as aulas. "Eu vou continuar fazendo pela questão de liberdade que a dança te dá, de movimentos. São movimentos diferentes, incomuns, para coordenação motora ajuda muito. E também pelo acolhimento, pela conexão que você tem com todo mundo, por sentir que as pessoas querem você ali".

NOTÍCIAS RELACIONADAS