Tivi São Lourenço, 01 de novembro de 2024
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Gravidez após câncer de mama pode aumentar a sobrevida, revela estudo

Pesquisa mostrou que gestação tende a reduzir o risco de o câncer retornar; entenda qual o impacto do tratamento oncológico na fertilidade de mulheres em idade reprodutiva

Por R7

Atualizado em 17/03/2022 | 07:19:00

Por algum tempo, a hipótese de que uma gravidez pudesse aumentar os riscos de um novo quadro de câncer de mama para aquelas mulheres que já haviam passado pela doença deixou médicos apreensivos e afastou as pacientes da maternidade. Na contramão dessa ideia, estudos recentes têm mostrado que uma gestação, na verdade, pode aumentar a sobrevida para essas mulheres.

Uma pesquisa apoiada pelo Ministério da Saúde da Itália e pela Associação Italiana para Pesquisa do Câncer, publicada no periódico científico Journal of Clinical Oncology, revelou que, em comparação com as pacientes com câncer de mama que não engravidaram, as que passaram por uma gestação tiveram menos risco de reaparecimento da doença, o que, consequentemente, aumentou o tempo de sobrevida para elas.

O ginecologista Maurício Chehin, coordenador científico e de oncofertilidade do Grupo Huntington, explica que a hipótese anterior considerava que os hormônios femininos aumentados pela gravidez potencializariam o risco de uma recidiva, ou seja, do reaparecimento da doença. Para ele, o resultado do estudo é surpreendente e não está associado apenas a questões hormonais.

“Na gravidez não existem apenas hormônios como estrogênio e progesterona, mas também outras moléculas e substâncias, algumas delas hormonais e outras não, que talvez desempenhem um papel protetor para a mama. Então, muito provavelmente, é esse conjunto da gravidez como um todo, e não um hormônio ou outro isolado, que acaba por fazer uma proteção e não um aumento de risco, como se achava anteriormente”, avalia o especialista.

Gravidez após tratamento oncológico

Passar por um tratamento quimioterápico, independentemente do tipo de câncer, pode impactar a capacidade reprodutiva da mulher, segundo o ginecologista. Isso acontece porque a quimioterapia afeta diretamente os ovários e o estoque de óvulos, o que reduz a fertilidade.

Chehin explica que cada quimioterapia tem um grau de toxicidade diferente para o ovário, que varia conforme o tratamento e a dose administrada na paciente.

“Para quem não fez congelamento de óvulo, a fertilidade pós-câncer vai depender primeiro de qual é a idade que a mulher tinha no momento do diagnóstico, qual era a reserva ovariana dela e qual era o estoque de óvulos que ela tinha. Isso faz muita diferença, porque sabemos que uma mulher com idade próxima aos 40 anos, fisiologicamente, já tem fertilidade reduzida”, explica o médico.

Não existe um tempo-padrão de espera para engravidar após o fim do tratamento com quimioterapia, de acordo com o especialista. Para que isso seja determinado, a avaliação deve ser feita de forma individualizada e levar em consideração fatores como prognóstico do tipo de câncer, as taxas de recidiva e qual o tipo de tratamento foi feito.

“O medo do oncologista é sempre de existir uma recidiva do câncer durante a gravidez, porque, caso isso aconteça, os quimioterápicos em geral são contraindicados, porque eles vão atacar o feto. Com a radioterapia é a mesma coisa. Então tem pacientes que podem engravidar em um ou dois anos, enquanto tem outras que vão ter que esperar de cinco a oito anos, isso é muito variável”, ressalta Chehin.

Além do tratamento, o tipo de câncer e em qual região ele está localizado são fatores que podem diminuir as chances de uma gestação acontecer. Somado a isso, as sequelas provenientes da doença ou da forma como ela se desenvolveu no organismo podem impactar o percurso da gravidez.

“Existe câncer de tudo quanto é tipo e gravidade, então, por exemplo, uma mulher que teve um câncer no rim e ficou com um quadro de insuficiência renal, isso vai ser uma complicação na gravidez. É tudo muito específico, mas depende de o câncer ou o tratamento terem deixado alguma sequela. Caso não exista sequela em termos de saúde e comorbidades, a gravidez acontece sem grandes intercorrências”, explica o médico.

Nesse sentido, o ginecologista alerta para a importância da conscientização sobre gravidez e fertilidade para as mulheres que enfrentam tratamentos oncológicos.
“Alguém tem que falar para uma mulher em idade reprodutiva que enfrenta um câncer que o tratamento com quimioterapia e radioterapia pode deixá-la infértil no futuro. Isso é muito importante, porque quando ela sabe disso, pode tomar a decisão se vai fazer algum método de fertilidade ou não. Mas ela pode decidir sobre isso. Porque hoje o que vemos são aquelas mulheres que não fizeram nada porque não foram orientadas que isso era um problema”, ressalta.

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