Médicos Délcio Castagnaro e Lírio Barreto falaram sobre casos de pacientes atendidos pela instituição
A equipe de saúde mental do Hospital Santa Luzia, de Ponte Serrada, participou nesta terça-feira, dia 17, de um debate sobre prevenção e combate da violência nas escolas, promovido pelo Congresso Nacional e envolvendo representantes de todos os estados.
Convidados pelo deputado federal Jorge Goetten (PL/SC), o grupo de trabalho esteve ao vivo em sessão na Câmara dos Deputados, transmitida pela TV Câmara. Os médicos Délcio Luiz Castagnaro e Lírio Barreto falaram sobre casos atendidos no hospital do município do Oeste catarinense, auxiliados pela coordenadora de Saúde Mental e pelo médico Erick Takahashi.
De acordo com o médico e também psiquiatra Lírio Barreto, o hospital atendeu dois casos de pacientes com transtornos que tinham "ideia" de cometer violência em escolas. Em um deles, inclusive, o paciente foi diagnosticado com esquizofrenia.
“Esse paciente tinha quadros de delírios e surtos frequentes. Mas esse quadro em si, tratando a doença mental desse paciente, a gente deu uma segurança para a sociedade onde o mesmo está inserido”, destaca.
Outro caso, de um adolescente de 16 anos, chegou ao hospital com um diagnóstico diferente, já com planejamento de um ataque que iria realizar em uma unidade escolar, de que forma iria fazer e quais eram os objetivos dele, segundo Lírio.
“Esse paciente já vinha com histórico de maus-tratos aos animais, ausência de compaixão, e evolutivo, assim como é o transtorno de personalidade, que começa na criança e vai evoluindo, podendo chegar à psicopatia. [...] Um quadro de ausência de empatia perante ao sofrimento do próximo. [...] Provavelmente esse menino traria um sofrimento muito grande para muita gente”, conta.
O jovem ficou no hospital de Ponte Serrada por cerca de 60 dias e após, foi encaminhado ao Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do município de origem.
O deputado Jorge Goetten também fez explanações e falou sobre as diferentes realidades que podem ser vistas em diferentes regiões.
Ao citar os pacientes atendidos no hospital, Délcio relatou que o adolescente é um caso que não tem cura.
“Esse paciente [16 anos] verbalizou por muito tempo o plano dele de realizar o atentado na escola [...] o psicopata ele não tem um motivo sabe? A gente questiona “maltrataram você lá, aconteceu alguma coisa?” “não, não tem nada disso, eu quero fazer porque eu quero mesmo”. [...] esse é um paciente que tem planejamento, tem estrutura de pensamento e é muito difícil de evitar que ele faça o que ele planeja fazer, porque ele é manipulador e ele não quer ser pego”, destaca o médico.
Já sobre o primeiro paciente, um homem de 25 anos, empregado, com família e inclusive cursando ensino superior, teve um delírio. Ele ouvia vozes que diziam para que ele cometesse um ataque. Os comportamentos estranhos foram percebidos por colegas de trabalho e avisados para as autoridades.
“Não é todo sociopata e psicopata que vai chegar as vias de fato, de expressar violência contra terceiros, etc. Então, para ver o grau de expressividade dessa enfermidade”, explica Délcio.
Ainda conforme o médico, um estudo realizado nos Estados Unidos explica que há três tipos de perfis que são propensos a praticar esse tipo de ataque. Um deles, com maior quantidade, é do tipo de autor antissocial, que planeja, se espelha em outros acontecimentos e busca fama, sendo mais difícil de identificar.
“Precisamos evitar focar nos autores, porque o psicopata se espelha nisso. [...] Então o ideal é que quando isso seja noticiado, se foque no sofrimento das vítimas, e não no autor dessas ações”, explica o médico.
O médico ainda frisa que a sociedade precisa entender e criar mecanismos para identificar esses casos de forma precoce, pois quem verbaliza sobre esse tipo de planejamento não está brincando. “É importante que a gente capacite a equipe da escola sem que a gente crie sugestão para que isso aconteça. [...] é um trabalho precisa ser feito com muita calma”, finaliza.
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