Tivi São Lourenço, 28 de outubro de 2024
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Justiça interdita centro terapêutico suspeito de sequestrar pacientes no Paraná

Em dezembro, Ministério Público do Paraná denunciou oito pessoas por torturas contra um paciente que estava internado no local.

Por G1/PR

Atualizado em 20/02/2024 | 09:49:00

A Justiça interditou um centro terapêutico em Iporã, noroeste do estado.

Em dezembro, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou oito pessoas por torturas praticadas contra um paciente que estava internado no local. Segundo a acusação, a vítima foi algemada e agredida com chutes na cabeça.

Segundo o órgão, entre maio de 2022 e novembro de 2023, os suspeitos se juntaram para cometer crimes de cárcere privado, internações involuntárias e sequestros de pacientes para a comunidade terapêutica, "mantendo os internados contra sua vontade na instituição". Leia mais a seguir.

O Ministério Público solicitou a interdição total da comunidade, mas, na ocasião, a Justiça apenas proibiu novas internações.

A decisão definia que o centro terapêutico deveria cumprir uma série de obrigações para regularizar a situação em até 45 dias.

Porém o prazo passou e as alterações solicitadas não foram feitas, segundo o promotor de Justiça do MP-PR Rafael Azola.

"Foram verificados que não foram cumpridas as obrigações determinadas pela Justiça. A situação continuava a mesma, culminando na interdição da clínica", explicou.

De acordo com a decisão judicial, o espaço também desrespeitou a determinação que proibia de acolher novos internos no período e recebeu uma paciente.

Pacientes foram transferidos

Segundo Azola, além da interdição, o MP-PR prezava pela saída "programada, gradual e segura" das pessoas que estavam internadas no local.

"É sabido que são pessoas com questões de vulnerabilidade, algumas com transtornos mentais ou alto grau de dependência química. Por isso, o pedido foi que houvesse uma transição segura, mediante a entrega de seus familiares, ou encaminhamento a outras instituições análogas que respeitassem a lei e os demais atos que disciplinam os centros terapêuticos do nosso país", reiterou.

Condições inadequadas

Segundo a decisão da Justiça, o centro terapêutico não apresentou o alvará de funcionamento nem a autorização para funcionamento do Conselho Regional de Saúde ou inscrição no Conselho Regional de Medicina.

Tais documentos, conforme a decisão, são obrigatórias para o desenvolvimento de atividades classificadas de alto risco sanitário, como as constatadas no local.

Além disso, o local apresentou diversas falhas estruturais.

A Justiça considerou ainda que o centro não desenvolvia um plano terapêutico para cada paciente, de maneira individualizada.

"Não foi acostado aos autos laudo médico circunstanciado apontando a psicopatologia do paciente e o tratamento indicado, com a indicação do período necessário para tratamento e período de estadia até o momento, com a respectiva previsão de alta, de modo que não há como se aferir, por ora, se o Centro Terapêutico tem sido eficiente na reabilitação de seus internos", afirma a decisão.

Denúncias de torturas e sequestros de pacientes

De acordo com o Ministério Público, a tortura que deu origem a denúncia foi cometida no dia 10 de novembro de 2023, quando o paciente fugiu da entidade, onde estava internado involuntariamente.

Ele foi capturado pelos funcionários da comunidade terapêutica perto de Umuarama, no noroeste do Paraná.

Logo depois, segundo a denúncia, "os denunciados passaram a agredi-lo com chutes na cabeça e torceram o braço da vítima enquanto ela estava algemada, vindo a fraturá-lo".

O MP afirma que outros funcionários, mesmo sabendo das agressões, "nada fizeram para impedir o resultado mais gravoso, assim, com o "resgate" promovido, inclusive com técnicas de algemação, não adotando nenhuma medida para apurar as responsabilidades por tais condutas".

A Promotoria diz que, entre maio de 2022 e novembro de 2023, os acusados se juntaram para cometer crimes de cárcere privado, internações involuntárias e sequestros de pacientes para a comunidade terapêutica, "mantendo os internados contra sua vontade na instituição".

"O que se verificou é que a instituição não ostentava características hospitalares, mas de estabelecimento destinado à detenção forçada, contando com severo esquema de segurança, câmeras, concertinas, grades, correntes, cadeados", cita o MP.

Os pacientes também eram, conforme a denúncia, dopados forçadamente. A acusação foi aceita no dia 15 de dezembro pela juíza Patrícia Reinert Lang.

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