Tivi São Lourenço, 22 de novembro de 2024
Gerais

Paranaense morre na guerra da Ucrânia após quase dois anos lutando como voluntário

Murilo Lopes Santos, de 26 anos, era natural de Castro, nos Campos Gerais. Ele embarcou para a Ucrânia em novembro de 2022, segundo a família.

Por G1/PR

Atualizado em 08/07/2024 | 09:42:00

O paranaense Murilo Lopes Santos, de 26 anos, natural de Castro, nos Campos Gerais, morreu em combate na Guerra da Ucrânia, na cidade de Zaporizhzhia. A informação foi confirmada pelos familiares. 

Em entrevista, a mãe de Murilo, Rosângela Pavin Santos, conta que o jovem se alistou voluntariamente e chegou ao país do leste europeu no dia 3 de novembro de 2022, motivado pelo desejo de lutar ao lado das forças ucranianas contra a invasão russa, que dura mais de dois anos.

"Ele falava: 'É muito covarde o que fizeram com a Ucrânia e eu quero defender'. E aquilo ficou na cabeça, no coração dele. Era o ideal que ele tinha", disse a mãe.

A guerra começou em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e fez ataques pela terra, pelo ar e pelo mar. O conflito não tem previsão de acabar. Em agosto de 2023, outro paranaense morreu na guerra, ele era curitibano e estudava Medicina.

Rosângela afirma que sempre foi contra a decisão do filho, mas não conseguiu impedir a ida dele para lá, já que, segundo ela, refletia a essência de Murilo. A morte do jovem foi confirmada na manhã da última sexta-feira (5).

No Brasil, o jovem serviu o Exército no munícipio de Castro por cerca de um ano e meio e saiu apenas porque a instituição deu baixa após ter prestado o tempo de serviço militar. A mãe lembra que ele tinha o sonho de seguir na carreira militar.

"Desde que ele saiu, ele nunca se desligou completamente. Ele fazia cursos online, aprendeu a língua, ele falava várias línguas. Ele fez o itinerário, comprou as passagens, foi sozinho, organizou tudo", relatou.

De acordo com a família, Murilo desembarcou em Cracóvia, na Polônia, e pegou um ônibus até a divisa com a Ucrânia. Depois, ficou cerca de um mês na cidade ucraniana Ternopil.

Em conversas com a mãe, o jovem relatava que não queria mais voltar a morar no Brasil e que tinha escolhido a Ucrânia como país para viver.

Segundo ela, Murilo era um homem reservado, de poucas palavras. O contato com ele era através de aplicativo de mensagens, que aos poucos foi ficando cada vez mais escasso.

"Quando ele foi, mais no início, ele ligava até chamada de vídeo. Mas ultimamente estava bem mais complicado, era só mensagem sem áudio. Fazia uns dois meses e pouco que eu não ouvia a voz dele", contou.

Priscila Pavin, tia de Murilo, relembra que o sobrinho era inteligente e buscava ser autodidata. Além disso, gostava muito de ajudar as pessoas e era apaixonado por animais. Ela relembra que o sobrinho resgatava os gatos que encontrava durante o trabalho.

"Muitas pessoas saíam das casas e deixavam os bichinhos, né? Ele sempre cuidava", disse.

Rosângela comentou ainda que Murilo não foi para a Ucrânia por conta do dinheiro e que, inclusive, investia o que ganhava em equipamentos melhores, como capacete, por exemplo, mesmo recebendo tudo do governo ucraniano.

Notícia da morte chegou por rede social

Rosângela teve o último contato com o filho na terça-feira (2), antes de ele ir para uma nova missão.

A notícia da morte chegou por meio de um colega de combate de Murilo, que mandou mensagem para o pai dele nas redes sociais na sexta, por volta das 11 horas.

"Ele falou que eles estavam sendo invadidos lá, que estavam sem luz. Disse que está bem complicado lá e que ia perder o contato [...] Ele disse que não poderia me dar muita esperança", relatou.

Ninguém da Ucrânia ou de embaixadas fez contato com a família, segundo Rosângela.

A família tem apenas um contato de outro brasileiro que também está lutando no conflito. Esse homem é natural do Rio Grande do Sul, segundo eles.

A angústia agora é tentar trazer o corpo do filho para o Brasil. A família diz não saber como e com quem falar.

"O que está sendo bem difícil é essa espera, porque a gente não sabe quanto tempo vai levar, quantos dias... Então, a gente fica de mãos atadas, sem poder fazer nada. Tô me sentindo muito impotente, a gente está bem perdido", lamenta a mãe.

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